domingo, 14 de dezembro de 2014

Quando perco

Venho ao longo do ano conhecendo pessoas egoístas ou me permitindo a elas. Não por fazer vista grossa e não  ver que o mundo é assim. Isso não vem ao caso. Mas o fato é que tentador ser egoísta e querer que sua própria vontade e às vezes sua única vontade prevaleça sem considerar que o outro tenha necessidades. Isso não é um julgamento e se fosse me julgaria bobo - nunca vítima - ingênuo demais. O que querem de alguém que tem o que dizer ao mundo - e diz - é estarem por perto e consciente ou inconsciente, lhe sugarem o que possivel for. Isso queima como vela acesa. Assim como a vela, a chama acaba. O glamour é um mito e de perto fica apenas o trivial: roupa e louça pra lavar, problema na família, dificuldade financeira, dificuldade pra dormir... então essa é a hora de desistir daquilo que imaginou ser difícil o acesso. Hora de inventar um motivo, convencer numa desculpa que "as coisas não são tão simples como a gente pensa". As coisas são exatamente simples como se pensa, caso contrário não teria havido nenhuma iniciativa pra uma aproximação qualquer. Eis o exercício que faço e que não vejo ser correspondido: me colocar no lugar do outro e que isso me faça mudar de postura e atitude. Afinal eu quero crescer, ser feliz e não vestir o uniforme de covarde. Um uniforme vermelho, que é o pior, das pessoas que têm medo do amor como se fosse o pior dos trabalhos braçais... se colocasse a mente pra pensar ia ver que é uma atividade prazerosa que o único esforço é de sorrir de manhã cedo e querer ir ao cinema vez ou outra. Já faz muito tempo a adolescência mas dela ficou a minha capacidade de sonhar. Sonhar em não ser tantas vezes descartavél ou como uma faixa de música que é trocada por outra mais animada. Sei que o tempo cura mágoas mas as mágoas nos mantém firmes por um tempo pra que chegar em um novo estágio que não cabem mágoas e nem nada que não seja positivo. E não há outra alternativa e não há conselhos pra alguém que é viciado em amor, mesmo aquele que lhe fará meu tempo ser desperdiçado, afinal, o meu tempo é pra isso. Eu sempre ganho quando perco.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Ser rio

Não é uma boa esquecer-se de si e nunca aprender a ser confiante. O tempo é como o leite no fogo, no menor descuido, entorna tudo, na maior rapidez, não tem mais volta. É importante pensar em si mas nunca apenas em si. É interessante distribuir delicadeza e educação. Não é o leão que engole é a caça que se sente ameaça e desperta o leão. Bondade é obrigação. Ingenuidade, pois o que menos está em falta é a desconfiança, o medo, o armamento pesado pra evitar ferimentos. Só pode ferir se não foi de coração o desejo de se dar sem cogitar se haveria devolução. O bem ja vem como figurinha duplicada; pra que se espalhe, pra que grude, pra que complete todo o álbum. Olhar pra si sentindo-se engrenagem e nunca, nunca o relógio inteiro que determina horas, minutos e segundos. As pessoas não precisam reconhecer seu esforço, você quem precisa sorrir quando há oportunidade de colaborar. Se tornar o gás que banca a decolagem do balão. Agir de maneira inédita à si mesmo pois há de ser surpreendente se ver amando mais do que julgava ser capaz. Acreditar no outro um pouco mais do que acredita em si, afinal, é no outro que vai buscar abrigo quando se percebe perdido, às vezes, com o mínimo. Ser confiante é torna-se límpido, como um rio. É ser rio; com águas correntes, cuidando das vidas que nele habita, levando e trazendo oxigênio, olhando a sua margem, acalmando quem mora ao fundo, sendo espelho para o céu e recipiente nos dias de chuva. A gente é responsável por mais vidas do que queremos adotar.
 L.G.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O que precisar...

Meu nome não lhe diz nada. Meu nome não vai lhe dizer nada. Por que um nome não é um nada. E o meu nome não é nada. Eu não sou útil porque não achei utilidade em ser. Eu não ultrapasso porque não acometo sequer um erro que possa servir. Eu não aponto um caminho porque meus braços são curtos e os meus olhos são baixos. Nada que eu diga vai ecoar. Nada que eu não diga vai faltar. Nada vai permanecer realmente gravado pois já sou uma reprodução. Nada vai necessitar ser perpetuado pois eu apenas me afeto e não penso. Não há uma necessidade de me ouvir. Não há um lugar que eu tenha que estar. Não há uma palavra que eu ainda não disse. Meu nome é um nome que eu escolhi e nada me diz. Meu nome não vai dizer o que deveria dizer um nome. Eu não tenho essa vida que precisa ser vivida. A vida é esse rio. E eu ainda tô chegando lá. Contudo, sendo impreciso e não existindo em nada ainda, meu nome não pode lhe dizer nada e me abstenho da responsabilidade de me conduzir a isso. Pois já estou aqui. Sendo eu, ja sou. Isso é tanto porque o nada é tanto. O nada já é. E nada sou.

domingo, 27 de julho de 2014

Pista escorregadia

Para mim o tempo parou. Me dizem que sou bem precipitado. Pra alcançar essa confirmação é preciso escalar um dos picos mais altos do Estado. Eu nunca tive disposição pra subir. A paixão é minha pista escorregadia. De repente começa a baixar a temperatura, cai uma neve danada e toda estrada é puro gelo, mas minha velocidade é alta. Nem percebo a temperatura baixa. Também não percebo o sol. Eu só queria estar perto de você. Deixa que eu cuido dos lençóis. Deixa que eu cuido pra luz não te acordar mais cedo. E já que é cedo pra um padrão, aqui escrevo como território mais livre; meu canal de TV fechada sem audiência; minha festa particular sem convidados; conto histórias pra ninguém ouvir. Existem coisas que estão só entre nós. É como se eu também fosse gêmeo. Me encontro igual. A gente sabe o preço que têm cada coisa. Minha imaginação me leva a todos os lugares com você. Acontece um descontrole de criatividade. Se me perguntam onde indicaria uma fonte segura de inspiração, diria sem pestanejar, pra seguir rua tal, chegar em tal andar, abrir a porta e então procurar por você, onde é tudo que vejo de belo. Eu sigo com o olhar aquele balão com uma girafa dentro. Seu sorriso vai me guiar e fico aqui esperando a próxima seta. A próxima molécula que alimenta meu organismo. Não me deixo esvaziar. É que cabe tanta coisa dentro de mim que o espaço que é seu parece que sempre foi seu. Sempre seu. Cada dia a mais as paredes saem um pouco de lugar modificando a arquitetura, criando mais espaço esperando por nossa decoração. O meu lar, onde parece que sempre morei, é o lugar que você pôs as mãos, onde você cuidou. Sei que vou abrir os olhos e te ver. Sei que o tempo vai passar e me traduzir a vida como um poema onde diz que meu coração vai descansar do lado do seu. Se é poesia é pq você me faz poeta. Os bons sentimentos são por que você os desperta. E como ainda não cresci preciso ouvir sua voz e decorar os movimentos do seu corpo para novamente saber qual é o cheiro da paz.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Aos que merecem perdão

Deve existir uma forma de perdoar àquele que não sabe se precaver. Deve existir uma forma de perdoar àquele que faz seu coração visível e deixa escaparem das mãos palavras de carinho. Deve haver outro caminho que não seja esse que vá de encontro ao mar. Um caminho que não seja feito de areia branca, rodeado de alguns verdes de folhas e pequenos arbustos, onde pode-se sentir um vento que traz maresia e antecipa a praia e dá idéia do azul. Deve existir uma forma de perdoar àquele que ao invés de esperar o sopro do vento lhe chamar, entra caminho à dentro sem investigar onde realmente vai dar. Deve existir um jeito de não olhar pra esse homem e pensar que ele poderia ter feito um pouco diferente. Existe nele um esboço de um sorriso, daqueles teimosos, que ficará por um bom tempo exercendo seu papel de sorriso e abrindo de uma vez por todas as janelas de sua alma. Será mesmo assim? O que esse homem pode esperar? Será que pela primeira vez vai vestir o elegante casaco do medo? Não pode ser. Mas então o que pode ser? Pra ele não há olhar pra trás. Pra esse homem existe um prazer em chegar na praia. Pra esse homem nunca houve um caminho tão bonito, tão verdadeiramente bonito. Será que ele pode pensar que enfim a sorte deu de cara com ele num momento de fuga, deixando órfão alguém que não soube aproveita-la? Deve existir perdão à ele por não saber a quantidade certa de gentilezas usadas no momento de uma simples conversa. Esse homem não sabe muito bem em que horas deve ser. Ele não planeja, como ator pesquisa seu personagem, quem será na hora certa que tem que ser. É impossível prever o amor. Não existem aparelhos climáticos com tecnologia suficiente para dar a posição correta em que o amor se encontra. Se se aproxima ou se afasta. Ou simplesmente se enconde. Desse jeito, esse homem entende que mesmo escrevendo na próxima página encontrá em breve, páginas escritas com tinta preta que não foram de sua autoria. Fechando os olhos respira fundo... respira mais uma vez e ouve aumentar o barulho do mar. O vento fica mais forte. O cheiro da brisa lhe invadem os pulmões. Ele sorri...abre os olhos e.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Não deve ser tarde

Eu acho que eu engoli a vida. Ainda não sei bem dizer o que tá acontecendo. Eu acho que ta desembaçando. A chuva se aplicou como creme para o corpo todo e foi ficando por aqui. Umedecendo. Engoli uma certa maresia a poucos dias e deu uma melhorada aqui na pele. Tem um arranha céu que eu conheço e subi até a cobertura e vi tudo. Dá pra ver tudo. É uma visão que só se tem do alto. Não da pra dizer que é uma bela visão por que a gente entalhou na pedra como seria a beleza e aí não sai mais da pedra. Pouco importa. Importa é ter um prédio que possa subir. Não se trata de alta ajuda. Quando se está lá na cobertura do prédio e o tempo acaba, é preciso descer e aí começa a vida, engolida ou prestes a ser engolida. Então a magia não está lá, mas quando desce. Não se pode tocar em nada quando está lá. Não se tem nada estando lá. Nada é nosso. Nem estando lá e nem aqui. Outro dia passou por aqui uma tempestade de areia. Ardiam os olhos. Deixou tudo empoeirado. Areiado. Não tinha outra alternativa a não ser esperar essa tempestade de areia passar. Fiz de tudo pra não engolir. Mas ela entranha nos cabelos, por dentro da roupa. Pelos ouvidos e pelas narinas. Enche os bolsos e as bolsas de areia. As roupas do varal passaram a ter o mesmo visual. A mesma cor e a mesma textura. Não via a hora dessa areia toda dar uma trégua e como nada é nosso, nem éramos da areia e nem a areia nos tinha. Foi recolhida pelo vento. Aí ela passou a ser do vento e foi embora com ela. Eu quero poder olhar pra o céu. Sempre quis poder olhar pra o céu. É uma decisão fácil, simples, eficiente e moderna, pois você pode olhar pra o céu a hora que quiser, sem hora marcada e sem regras. Praticamente ninguém conhece essa falta de regra. Esse dia houve um encontro. Encontro só se dá assim encontrando e não buscando. Encontro é levantar a vista e ter outra vista que te avista. Foi quase exatamente assim. Isso foi esse dia mas somente à partir de agora estou anotando. A gente custa a acreditar no sabor das coisas. A gente não engole e quando engole é rápido demais e deixa de sentir o gosto. Nem tudo vai ser amargo e o encontro, por exemplo, pode te levar ao cinema. Há um tempo que não ia ao cinema. O fato é que não faz parte da administração do cinema destrui-lo algum dia e vamos contando com a eternidade do cinema. Nem ele mesmo vai ficar pra sempre. Eu preciso voltar lá antes que ele não exista mais. Não estou falando de correr contra o tempo. Não estou falando em ter pressa. Falo daquela dinâmica que a gente perde com o passar dos anos. A gente queria e fazia. A gente sentia e vivia. Estávamos vivos por que não tinham começado a nos deter. Não deve ser tarde pra ir no cinema, pra experimentar um novo jantar, pra conhecer tudo outra vez. Não está tarde pra começar tudo outra vez. Cedo é acreditar que não há mais nada a fazer senão achar que é tarde demais. E final de tarde é quando no céu se encontra mais opções de acreditar que não é tarde.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Vivo

Era um sentimento vivo. E vivia até bem. Acordava como tinha que acordar. Dormir, nem sempre. Dormir é uma escalada daquelas de inexperiente ao topo do sono. É que o coração tem seus próprios pensamentos e inclusive sentimentos. Não iria enlouquecer por estar me sentindo vivo. Estava sempre escrito. Não iria me sufocar por estar vivo. Tinha muito vento. As horas passavam lentas mas estava tudo parecendo que iria se resolver. Foi mesmo assim, um daqueles sentimentos que davam a ilusão de estar vivo era a esperança. E por mais absurdo que possa parecer, tal esperança não era uma caixa de papelão com expectativas dentro. Olha só, era uma caixa de papelão com uma alegria de se achar vivo, apenas. Não era de vidro. Não era de cristal. Era de papelão a tal caixa. Percebendo tudo que me ocorria eu me pus a escrever. Essa escrita não tinha valor de cobrança e nem queria ser moeda. Ah, mas até posso jurar se for preciso pra demonstrar estar sendo real que escrevia porque me sentia vivo. Como agora, embora as cores tenham sofrido tanto às ações dos banhos de água fria que estão meio desbotadas, tenho ainda o que dizer sobre as coisas. As coisas são assim mesmo. Elas são mesmo uma coisa meio assim e tudo tende a passar. Assim como entrar matagal à dentro com um único canivete na mão, entender que todas essas pessoas não aprenderam ainda a tratar o amor como amor, se torna um desafio beirando a aventura. Para elas é sempre noite escura e sem um poste, sem laterna, sem estrelas, causa medo. Defende-se de si mesmo em uma perseguição que não chegará a lugar nenhum. Chegará num abismo que pode estar camuflado de casa com cerca pintada de branco gelo, jardim e até um quintal com goiabeira e pitangueira. Ainda estou vivo, vejo. Respiro. Caminho. Leio placas por onde passo que me revelam cada vez mais coisas que preciso fotografar e não esquecer. Não registrarei queixas. Dentro da caixa de papelão não vou deixar más impressões. Se o passeio ainda não foi possível pra ver belas paisagens, conhecer novos lugares, respirar um outro ar deve ser porque cheguei antes do horário do transporte passar. Espero aqui ou volto dia.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Para falar da minha última canção

As relações amorosas, em qualquer nível, são susceptíveis a emoções e situações diversas, basta apenas estar vivendo alguma.
Lidam com o delicado, com o sensível, com o escondido, o intocável e aí já está estabelecido o conflito; obviamente está cercada por muitos momentos de diversão, intensidade, prazer, magia, planos e a devolução de muita coisa importante que havia se perdido na vida de cada um.
Porém, quando chegam ao fim, são avalanches e algumas vezes sem o menor estrondo inicial que daria tempo de sair correndo e se salvar. Não tem como escapar e essa dor é esmagadora e deixa marcas, medo, mau-humor, inutilidade e uma intimidade maior com a própria cama.
Isso aqui não é pra relatar exatamente uma experiência pessoal e dizer o quanto foi difícil, mas sim, pra falar da última canção que compus "Eu acho que o que dói".
É uma letra curta que não quer tocar na questão do amor que magoa mas o quanto, por outro lado, também pode ser sofrido não viver o que viemos fazer no mundo: aprender a amar, encarando erros, enxergando marcas, seguindo em frente e se permitindo viver tudo de novo com um pouco mais de conhecimento.
Todo processo de revolta e rejeição a um novo relacionamento tem seu valor mas dar-se uma nova chance é abrir uma janela de frente pra o mar. É voltar a sorrir, acreditar na sorte e ficar esperando o próximo telefonema de quem ainda está conhecendo. Não estamos imunes. O amor vai sempre dar um jeito de chegar.
Com isso, acredito que sempre valerá a pena sentir a euforia de conhecer um universo novo sem certeza do futuro mas com a possibilidade imensa de emprestar o par de chinelos no dia seguinte.
O tempo não espera você se aprontar.
Agora você pode ouvir a canção sobre tudo isso que quis dizer:

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Fazer estar bem

Me ocorreu hoje que posso estar tentando te fazer bem. Me ocorreu que se eu te deixo feliz, à maneira que suponho, encho o peito de um ar risonho. A intenção de tudo que faço é chegar ao bem estar, mas numa lista priorizo sua satisfação. É o topo da lista. É como me sinto bem. Um cobertor com cheiro de amaciante, aroma jasmin, numa noite de frio. À partir disso quero que saiba que não desejo ficar apenas comigo sob esse jarmin que mais parece um cobertor numa noite de frio. Posso empresta-lo. Eu não perco tempo escolhendo palavras eu encontro meu tempo de me fazer bem pois suponho que te fará feliz. Até agora estava deixando dentro de uma vasilha protegida com papel filme a palavra feliz. Para não haver a sensação que estou em um certo palanque tentando eleger a mim mesmo o melhor candidato pra um cargo de alta responsabilidade e tão cobiçado como ser feliz. E ser feliz é pra autodidatas. Ninguém se mete na felicidade alheia. Nesse caso que descrevo, autorizo suas sugestões que possam me beneficiar na escolha por ser feliz. Como algo são. Tá autorizado sua intervenção. Já existe uma conexão nossa para uma certa alegria. Falei alegria quando eu não queria. Alegria é cabo eleitoral de Seja feliz. Vêm puxando nas costas uma carroça, por falta de burros, carregada de promessas que ninguém mais quer comprar. Por isso estava evitando esse par embora seja a única e melhor aposta pra mim, pra você, pra nós dois. Nós dois também. Evitando citar. Embora mastigando todo dia, nós dois também precisa estar nessa linha. Precisamos entrar na linha. Na linha que nos põe frente à frente. Foi dado um cartão de transporte pra um bairro distante e com engarrafamento pra a insegurança. Hoje é dia de querer a jóia quase mais cara. Hoje é dia do cruzeiro à uma ilha que é cercada por festas por todos os lados. Hoje eu vim deixar que me escape dos dedos toda saúde contida em meu prazer de sugerir algum prazer à você. Permaneço no propósito. Minha permanência quer continuar criando cenários e trilhas pra desfazer a ilusão que o bem-estar já está reservado e teremos que esperar que desocupe uma vaga. Viro logo a mesa. Chamo o gerente. Falo baixinho mas com as palavras certas: deixe-nos poder provar o sabor. O amor está no cardápio, não está? Saimos de lá satisfeitos me dirijo até minha casa. O teto que cobre a paz de saber que faço planos sorrindo pra sorrindo te ver. Continuarei na linha reta na intenção de te encontrar. E indo em frente, todo bem-estar na mochila e uma praia boa pra seu descanso e a confiança que continuarei em formas novas de compor o seu tão esperado gostar. Assine a autorização e coloque em baixo da porta.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sem pedaços

Andava descrente de tudo. Andava principalmente descrente de mim. A chuva não, a chuva era real no meu rosto. A cratera gigantesca aqui dentro era real. Esse lado realista apenas servia como cabide para todas as partes que doíam em mim. É que quando acordei de repente eu estava numa ilha. Numa ilha longe. E não tinham deixado cair por lá, por entre a selva, nenhum mapa, nenhuma pista. Aí eu já comecei a não acreditar mesmo em nada. Ilha é uma coisa tão deserta que qualquer deserto que se orgulha de seu imenso vazio se torna arrogante. Vazio não é pra qualquer um e eu estava descrente. Era ruim andar em círculos. Procurar uma saída nem sempre significa que se poderá achar. Eu tinha deixado de procurar. Tinham me deixado pra mim. Tive uma obrigação injusta de me achar. Para quedas assim somente o chão. Ninguém cai na água, numa piscina de bolas de isopor ou num colchão de ar. Quedas foram feitas pra arrebentar o que parecia forte ou quase inquebrável. Deu certo. Quebrou-se com total eficiência numa queda feita pra quebrar. Mas quem consegue colar pedaços de si mesmo? Sem mãos, sem dentes, sem pernas, sem cotovelos, sem restar nada que sirva de apoio? Aos poucos o pouco que ficou, entre não dormir e cair de sono, entre pesadelos e branco total, foi  se reorganizando por exclusiva sobrevivência. Vendo-me os pedaços pude me conhecer parte a parte desse corpo que não via a um tempo. A quanto tempo! Nem me lembrava mais. E tive que acreditar. Sair da descrença. Eu sabia levantar o braço e apontar pra lá, onde eu queria estar. Havia coisa boa pra mim. Daqui mesmo eu me via lá, antes de chegar. Mesmo sem saber chegar. Eu tanto quis que apontei, mirei a vista e fui. Não houve outra, cheguei lá. Meio sem saber pisar no chão. Meio sem saber pra onde olhar, mas entendendo que cada lugar tem sua particularidade. O melhor da particularidade que encontrei foi te conhecer. Houve uma certeza quase inquebrável que tava apontando na sua direção e não a esmo. Porque ao se recuperar de uma queda em que se parte em pedaços a gente passa a compreender cada articulação que dói. Cada parte que dói fala alto e nos previne dos perigos de novas contusões. Da ponta do dedo indicador ao calcanhar. [Ressaltando que eu não tinha conhecimento que aquilo era um precipício.] Acontece que apontei pra lá. Acima do precipício. Subia descrente. Completamente. O melhor momento pra mim foi quando lentamente começou a escoar bem pra lá, o líquido sujo da dor que me encharcava toda a roupa e eu pude secar os cabelos com sua brisa. Ninguém melhor que eu pra entender o momento em que apontei, fui e te encontrei. É como eu te disse, aquela tarde valeu tanto quanto vale se ver gostando de alguém. [Aquele beijo eu ainda nem pude escrever.] Vale o tempo de espera. Vale o branco na vista. Vale tanto quanto o que vem de bom pela frente. Vale acreditar que embora estivesse descrente é inevitável não te olhar.

Amanhã e depois

Em algum dia de amanhã estarei te ligando pra te ver. Será o dia de um passeio por aquele lugar que aprendemos a gostar. Bem nossa cara. Vai ser lá, outra vez, que vamos combinar olhares e lembrar que a última vez que estivemos ali não ventava tanto. O tempo muda de uma forma só dele. Só a gente sabe o que faremos depois. Só a gente sabe como nos dar as mãos. Um dia assim esqueceremos os relógios. Não teremos tempo a perder, pois quase perdemos o tempo de colocarmos os medos e as dúvidas de lado pra seguir o nosso caminho juntos. É um tempo que a gente nem quer lembrar pois nos deixa pouco contentes. No dia seguinte, após amanhã, você me liga pra saber como tudo vai e me diz como tudo foi. Pelo som de sua voz sei que precisa do meu tom de voz pra te causar uma pequena calma. Aquela calma que vem acrescentada de saudade com uma calda de desejo condensado. Sua ansiedade em me ouvir vem num balão e vem descendo lentamente até chegar no chão quando uma risada nos faz relaxar. Eu fico bem por te fazer bem e somos como um carrossel. Um carrossel pode levar a uma ideia infantil e não é nada mau, pois toda criança leva em si um poder de transformação e determinação tal qual o amor. E já que estou falando de amanhã, sei que depois de amanhã estaremos falando de amor. Minha palavra preferida. Não sei se por aí as pessoas têm uma palavra preferida, mas amor é uma palavra que faz o corpo balançar. Não como dança. Não como estar num asfalto esburacado. Balança como quem perde a força de ficar em pé. Balança como palha de coqueiro. Eu não precisarei mais me comunicar com ninguém, só em me ver balançar, tudo estará dito. Depois, amanhã, será meu tempo preferido. Estaremos famintos. Estaremos de ressaca. Estaremos de porre. Estaremos com sono. Estaremos com preguiça. Estaremos planejando uma nova receita. Estaremos sem nenhuma ideia de como nos divertir novamente. Amanhã vou estar na boa. Quando você me ligar será quando tudo for calmo entre nós. Hoje, solto palavras na esperança de ser real que no depois estaremos rindo do quanto foi feliz te ver pela primeira vez. 

terça-feira, 1 de julho de 2014

Tenho pra mim

Custo à acreditar que preciso me arrepender se o que menos sei é o que preciso. Sei que não preciso de desculpas. Sei que não preciso ser confundido com um panfleto de ótica oferecendo a visão em parcelas sem juros. Tenho noção de valores e sei que preço pagar. Então devo descartar o arrependimento de ser mais próximo do repente e tão distante da ópera. Um tão espontâneo e improvisado e o outro tão ensaiado e polido. Não entrego tudo de bandeja, o melhor eu vou borrifando aos poucos. É um engano achar que me revelo nos primeiros minutos do filme. Todo filme guarda surpresas. Outro dia pensei absurdos sobre como chamar sua atenção. Nada com fogos de artifício, nem cartazes na porta da sua casa ou uma descida estratégica de helicóptero em seu quintal. Absurdo em te mandar flores. Absurdo em converter um simples desejo em uma dúzia de flores. Então eu desisti da idéia da dúzia de flores e pensei em uma única flor. Como chegaria em sua casa? Quem a transportaria até você? Como não poderia ser eu mesmo, quem faria? Comigo, eu sei que não preciso me culpar do desejo de enviar uma única flor. Se não o fiz foi por falta de uma boa logística na hora da entrega. Essa entrega que não fiz, faço dentro da minha cabeça e dentro da minha cabeça a flor chegou à você. Foi tão simples que inclusive, num jeito que só a imaginação concede, eu lhe vi sorrir depois que o entregador foi embora, ao ver uma única flor. Havia um cartão com poucas palavras, pois uma única flor já diz o que ainda nem se sabe dizer e não havia assinatura. Até vi que guardaria com cuidado e ficaria decifrando o anonimato de como essa única flor lhe foi ofertada. Então esse momento seria tão empolgante pra mim quanto para você. A vida só tem que ser empolgante. A vida só tem que fazer efeito depois de engolida. Nenhuma história foi escrita sem o primeiro parágrafo. Eu não me faço difícil e nem sou fácil pois é complexo ser explícito. Tenho pra mim que não lhe esqueço pois quando te vejo percebo que estava o tempo inteiro naquele instante que acabou de acontecer. Tenho pra mim que será assim até quando a gente não quiser. Tenho pra mim que tenho você.

domingo, 29 de junho de 2014

Colher de chá

Fazia uma tarde inteira que não te esperava. Nada me iluminava. Ninguém me detia. Nunca houve sucesso na espera e muito menos na insistência. Aqui nessa mesma rua em que a gente vive eu não te reencontrei. Não houve continuação. O desejo só se torna aquilo que se quer pra sempre quando há um passo pra frente e você não deu. Toda vez que me lembro eu percebo que somos próximos além dos poucos passos que são necessários pra a gente se ver. Foi uma única tarde e uma única praia que ficou. Foi uma única tarde e uma única praia que não ficou. Naquele dia existiu algo suficiente pra transformar o dia seguinte em espera e eu nem sabia que estava distraído. Havia uma distração entre nós que nos permitia brincar de sermos quase um par mas você impediu. Não sei o que no pouco teve pra significar um tanto pra mim até agora mas é justamente por isso que escrevo. Ontem e em outro dia que lhe vejo deixam uma coisa incomodando como uma única mosca que pousa coreograficamente sobre um dos braços. O chato de ser como uma única mosca é querer se livrar de algo que insiste em voltar e ficar no mesmo ponto, no mesmo braço. O que faz ser diferente de uma única mosca é que apesar do incômodo de sempre voltar ao mesmo ponto, lhe ver traz algo de bom, um bom esquisito. Parece mergulhar uma colher de chá numa panela gigante, quase transbordando, de doce de leite e só ficar com a colher de chá. É esquisito porque mesmo não se acumulando de toda panela de doce de leite existe um bem-estar com a colher de chá. Existe uma certeza no gosto e uma certeza de sede, depois de uma única colher de chá. No fundo a gente entende tudo. No fundo eu sei como é toda essa construção. Pode não virar casa, pode não virar prédio e ainda assim vejo uma porta e abro uma janela pra uma grama verde numa terça-feira de folgas.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Chá com a paz

Eu sei que a paz, pra que eu a encontre, só depende de mim. Ela nem me espera. Ela conta que eu a ache. Onde quer que ela esteja.
Não sei como será esse dia, mas sei que por enquanto, não existem dias contentes.
Os dias são como a chaleira no fogo. Coloca-se água, começa a virar vapor, pode ser que se transforme em café, pode ser que vire chá, mas vai ser só mais uma outra coisa a ser tomada, ser digerida e mais nada. No dia seguinte a mesma chaleira, o mesmo vapor, o mesmo chá ou mesmo café serão digeridos com o mesmo gosto, o gosto de todos os dias.
A minha cabeça dá giros em torno da mesma estrela que ainda brilha mas que não pode ser tocada, não pode ser vista, ao contrário disso, devo esquece-la e só abrir os olhos quando estiver realmente longe, pois a luminosidade inevitavelmente cega e disnorteia, principalmente a mim que já não sei muito bem onde fica o norte das coisas.
Por enquanto acho tudo injusto e cruel. Como não perceber no seu jardim que as glórias das manhãs se abrem e permitem que insetos sobre pousem suas pétalas. Ou não perceber que há uma nova correspondência na caixa dos correios.
A mágoa é como uma mariposa que não sabe encontrar uma abertura pra sair e se debate diante do vidro, talvez por não conhecer janelas de vidro e insiste sem cansar ou pára de vez em quando pra descansar as asas que involuntariamente lutam por uma fuga e acaba por fazer barulho, por contrariar, por tornar as coisas mais difíceis. Quando se quer fugir, só se quer fugir, não importa pra onde, só importa do quê.
A paz certamente não está na chaleira, nem se debate diante do vidro e nem quebra a cabeça com estratégias de fuga ou de um esconderijo implacável. A paz deve andar de sorriso esculpido e roupas coloridas pois nem teve muita atenção em combinar as cores, queria logo chegar no mar e colocar os pés dentro da água, sentir o sol até que ele se ponha e  a deixe disposta a sorrir e pensar: amanhã quero tudo isso de novo!

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Dos dias sem fim (Luiz Gadelha) para ouvir

Dos dias sem fim ouvir áudio
(Luiz Gadelha)

Não quero ficção
Prefiro ficar só
Coragem é pra quem tem
Senão...

Não quero aventura
Prefiro os pés no chão
Viagem só pra ir
Além...

Não deixo de amar
Mas tenho um novo olhar
capaz de ser mais vivo

Se fico por aqui
Desejo preservar
O que guardo como único

Eu sou
Mas eu comigo
Tô mais meu amigo



quinta-feira, 1 de maio de 2014

Nem tudo que reluz é resposta

Como seria se lhe procurassem
falando de amor sem rodeios, quase?
Rondando o passado que não
foi tão distante onde se viam à diante?
Como seria se a boca que não tens mais o gosto trouxesse à tona
um desejo quase louco de esquecer
o hiato e retomar o ditongo?
Como seria ouvir que há saudades das coisas mais sutis e das coisas mais consistentes como o abraço?
E se não lhe procurassem e lhe mandassem carta sem orgulho nas palavras só pra dizer que nada tem mais tanta graça?
Que tentar seguir em frente é o ideal até o dia que não seja total por que sentir ultrapassa?
Como seria se por um minuto se sentisse igual a quem te procura com sua imprudência em dizer o que sente e o que pensa?
Como seria estar só em um dia apenas com quem esteve tantos dias em plena alegria? Como seria?
Tantas perguntas são apenas inscrições.
Deixam que as dúvidas sumam por bondade ou por desprezo.
Fazem sentindo pra própria interrogação.
Fazem desacelerar o coração de quem pergunta.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O amor é trilho

O amor não muda. O amor congela o tempo. O tempo passa rápido, passa voando mas o amor tem um poder de não se alterar com o passar do tempo. O amor é trilho de trem. É feito de ferro. É um destino pré definido. A opção é não fazer essa viagem. Não embarcar. E se embarcar vai ter que pular do vagão se quiser desistir do percurso. Nem tudo é pra sempre exceto o amor. Nem o trem dura tanto quanto o trilho e o amor é trilho. O amor abre os caminhos. Entra na mata, passa sobre o rio, chega na montanha, vai de país a país. Se quiser esquecer o amor vai ter que viajar de carro ou de avião. Avião não desencarrilha. Avião não cospe fumaça. O amor não se fere se o trem desencarrilha e também não pode ser culpado pelo acidente. O amor sempre vai estar ali servindo de estrada. Quem decide viajar de trem confiou nos trilhos. O maquinista é apenas uma boa companhia.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

"Supérflua" - Segundo CD de Luiz Gadelha - Download


Dia 22 de janeiro foi ao ar para uma audição exclusiva, meu segundo CD "Supérflua" no site Tenho Mais Discos Que Amigos.
O disco foi muito bem aceito pelas pessoas. O pessoal do Tenho Mais Discos Que Amigos receberam muito bem a minha proposta de lançar esse disco no site deles e agradeço muito toda confiança e todo profissionalismo. 
A idéia era essa: colocar o disco apenas pra uma primeira audição no Tenho Mais Discos Que Amigos, divulgando amplamente o "Supérflua" e criar interesse pra quem gostou do resultado buscar o download uma semana depois aqui no meu blog.
Agora todos podem ter as faixas do "Supérflua". 
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"Supérflua" - Luiz Gadelha (2014)
Download gratuito AQUI
(Completo)


“Supérflua” – Segundo CD de Luiz Gadelha (2014)
por Luiz Gadelha

Fazer um disco em casa parece uma tendência de uns tempos pra cá, com a facilidade que os músicos começaram a ter de montar, com alguns equipamentos, seu próprio estúdio de gravação. 

Fazer um disco em casa usando apenas um notebook sem estúdio e sequer um microfone...é loucura! Foi essa loucura meu primeiro impulso, uma vontade de me desafiar e me ver diante de um desconforto e de um risco.

Usando apenas um programa de samplers (trechos de sons) de instrumentos, comecei a organizar um repertório e a compor para essa experimentação. Não sou um leigo em gravação e produção musical, mas não sou técnico e não tenho conhecimentos para desenvolver um disco sozinho com arranjos que saem de dentro de um programa de computador. 

Era isso que eu queria. Não saber e fazer não sabendo. Portanto, me joguei na escuridão e fui escavacando essa ideia. O desafio maior era gravar a voz, pois meu grande equipamento comportava apenas um microfone interno do notebook... aqueles que a gente usa pra falar na web cam. E muitos foram os testes. Soltei dois singles na internet ainda em caráter de experimentação.

A idéia de ser um disco foi ficando mais forte e, em volta dela, o desejo pretensioso de lançar algo que rompesse com os padrões de gravação de disco que existem, até mesmo os discos gravados em estúdio caseiros. Os músicos gravam seus instrumentos e o vocalista põe sua voz logo depois e tudo vai pra uma mixagem pra deixar bem encaixadinho, seguido de uma masterização que faz todo o trabalho ficar poderoso, gordo, forte! É como o reboco e pintura da casa depois de construída. 

Não é uma crítica aos estúdios, aos produtores musicais, aos discos e ao músicos. É uma vontade de experimentar, ver como seria recebido e, quem sabe, até sentir que eu estaria produzindo alguma arte (dentro do meu conceito que arte é aquilo que rompe com algo ou alguma coisa que é padrão, que é linear).
Me veio agora um poema do poeta e letrista Antônio Cícero, que Marina Lima recitou em seu disco “O Chamado” (1993): “Não quero só ficar bem na foto, quero dizer a que vim. Mesmo que isso me custe revelar coisas que não gosto em mim (...)”. 

Não estou na contra mão. Neste disco contém sons, vozes, é mixado e masterizado... mas por mim, que me cerquei apenas de intuição para realizar todas essas atividades.

Em algum momento contei com alguns direcionamentos do músico Henrique Geladeira, técnico de gravação. As composições foram chegando aos poucos, de acordo com os acontecimentos em minha volta. 

As letras se encontram num único vértice: o amor! A falta ou a presença dele. O romântico e o fraternal. O que critica e também suavisa. O que questiona, mas também aceita. O que sonha, mas também realiza. Resgatei uma canção antiga e inédita em parceria com Simona Talma, “Cidade sem inverno”, e inauguro uma nova parceria com Thais Mendes em “Capitão”.
“Supérflua”é a canção que abre o disco e compus para esse fim. Ela é a voz da música. É a personificação da música questionando sobre si mesma e o seu papel no mundo. “O que devem fazer por aí comigo e em meu nome?” - questiona. 
Ela simplesmente quer ser útil e quer ser lúdica. Os arranjos foram pensados para os recursos que eu tinha, pensando no eletrônico, no acústico desse eletrônico e no econômico, no simples.

Me inspirei em alguns discos de Marina Lima feitos dessa mesma forma, incluindo a construção de sua composição. Outro elemento que me inspirou foi o funk carioca. Não exatamente o estilo, mas a cultura da produção desse som que sai de uma batida, com pouco elemento harmônico (que fazem acordes) e uma voz mandando o recado, que é o mais importante.

Algumas vezes, durante o processo, percebi que o que resultava dessa experimentação se aproximava muito do karaokê. Gostei dessa proximidade. São músicas de sucesso numa caixa que qualquer pessoa pode cantar, se divertir, soltar a voz sem nenhum julgamento... Só colocar uma ficha. E quase chegando ao fim dessa jornada, completado arranjos e repertório, peço a Simona Talma pra me ajudar a organizar a ordem da músicas dentro do CD, pra que ideia fique redonda dentro dos temas e tudo seja dito de forma coerente. Claro que ela realizou de bom grado, ouvindo música por música, mas fez uma observação quanto à voz do disco.

O processo não havia me ajudado a deixar o canto de uma forma tão legal, precisando rever essa questão. Foi então que fiz o caminho de volta, embora preocupado com o conceito de propor uma experiência toda feita em casa. Mas, concordando com os pontos de Simona, busquei Toni Gregório, que conhece bastante de música e tem um estúdio em casa para podermos recolocar todas as vozes. Toni topou na hora e foi importantíssimo, embarcando com seu ouvido primoroso e sua mente aberta pra música, deixando essa nova voz bem mais pronta e sem fugir do conceito do disco.

Foto: Pedro Andrade

“Supérflua” é um projeto de um músico só, mas que precisou de parceiros essenciais pra que nascesse: O site “Tenho Mais Discos Que Amigos”, que topou às cegas lançar a audição em primeira mão do disco; Simona Talma, que contribui em composição e em sensibilidade para reconhecer o que poderia melhorar; Thais Mendes, com seu incentivo e com seu “Capitão” trazendo ludicidade pra esse mar; Pedro Andrade, com seu clique nas fotos de divulgação e deixando o conceito bem mais formatado; Henrique Geladeira e Toni Gregório pela competência técnica e musical.

Fecho tudo isso com uma capa que produzi inspirada no último filme que vi no cinema, o brasileiro “Tatuagem”. O longa que conseguiu quebrar padrões em aspectos artísticos e provocar o espectador nos tempos de hoje, quando tudo parece ter sido visitado e questionado, deixou interrogações em mim. Quando a arte se torna algo imprescindível? Supérflua ou indispensável?