domingo, 27 de julho de 2014

Pista escorregadia

Para mim o tempo parou. Me dizem que sou bem precipitado. Pra alcançar essa confirmação é preciso escalar um dos picos mais altos do Estado. Eu nunca tive disposição pra subir. A paixão é minha pista escorregadia. De repente começa a baixar a temperatura, cai uma neve danada e toda estrada é puro gelo, mas minha velocidade é alta. Nem percebo a temperatura baixa. Também não percebo o sol. Eu só queria estar perto de você. Deixa que eu cuido dos lençóis. Deixa que eu cuido pra luz não te acordar mais cedo. E já que é cedo pra um padrão, aqui escrevo como território mais livre; meu canal de TV fechada sem audiência; minha festa particular sem convidados; conto histórias pra ninguém ouvir. Existem coisas que estão só entre nós. É como se eu também fosse gêmeo. Me encontro igual. A gente sabe o preço que têm cada coisa. Minha imaginação me leva a todos os lugares com você. Acontece um descontrole de criatividade. Se me perguntam onde indicaria uma fonte segura de inspiração, diria sem pestanejar, pra seguir rua tal, chegar em tal andar, abrir a porta e então procurar por você, onde é tudo que vejo de belo. Eu sigo com o olhar aquele balão com uma girafa dentro. Seu sorriso vai me guiar e fico aqui esperando a próxima seta. A próxima molécula que alimenta meu organismo. Não me deixo esvaziar. É que cabe tanta coisa dentro de mim que o espaço que é seu parece que sempre foi seu. Sempre seu. Cada dia a mais as paredes saem um pouco de lugar modificando a arquitetura, criando mais espaço esperando por nossa decoração. O meu lar, onde parece que sempre morei, é o lugar que você pôs as mãos, onde você cuidou. Sei que vou abrir os olhos e te ver. Sei que o tempo vai passar e me traduzir a vida como um poema onde diz que meu coração vai descansar do lado do seu. Se é poesia é pq você me faz poeta. Os bons sentimentos são por que você os desperta. E como ainda não cresci preciso ouvir sua voz e decorar os movimentos do seu corpo para novamente saber qual é o cheiro da paz.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Aos que merecem perdão

Deve existir uma forma de perdoar àquele que não sabe se precaver. Deve existir uma forma de perdoar àquele que faz seu coração visível e deixa escaparem das mãos palavras de carinho. Deve haver outro caminho que não seja esse que vá de encontro ao mar. Um caminho que não seja feito de areia branca, rodeado de alguns verdes de folhas e pequenos arbustos, onde pode-se sentir um vento que traz maresia e antecipa a praia e dá idéia do azul. Deve existir uma forma de perdoar àquele que ao invés de esperar o sopro do vento lhe chamar, entra caminho à dentro sem investigar onde realmente vai dar. Deve existir um jeito de não olhar pra esse homem e pensar que ele poderia ter feito um pouco diferente. Existe nele um esboço de um sorriso, daqueles teimosos, que ficará por um bom tempo exercendo seu papel de sorriso e abrindo de uma vez por todas as janelas de sua alma. Será mesmo assim? O que esse homem pode esperar? Será que pela primeira vez vai vestir o elegante casaco do medo? Não pode ser. Mas então o que pode ser? Pra ele não há olhar pra trás. Pra esse homem existe um prazer em chegar na praia. Pra esse homem nunca houve um caminho tão bonito, tão verdadeiramente bonito. Será que ele pode pensar que enfim a sorte deu de cara com ele num momento de fuga, deixando órfão alguém que não soube aproveita-la? Deve existir perdão à ele por não saber a quantidade certa de gentilezas usadas no momento de uma simples conversa. Esse homem não sabe muito bem em que horas deve ser. Ele não planeja, como ator pesquisa seu personagem, quem será na hora certa que tem que ser. É impossível prever o amor. Não existem aparelhos climáticos com tecnologia suficiente para dar a posição correta em que o amor se encontra. Se se aproxima ou se afasta. Ou simplesmente se enconde. Desse jeito, esse homem entende que mesmo escrevendo na próxima página encontrá em breve, páginas escritas com tinta preta que não foram de sua autoria. Fechando os olhos respira fundo... respira mais uma vez e ouve aumentar o barulho do mar. O vento fica mais forte. O cheiro da brisa lhe invadem os pulmões. Ele sorri...abre os olhos e.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Não deve ser tarde

Eu acho que eu engoli a vida. Ainda não sei bem dizer o que tá acontecendo. Eu acho que ta desembaçando. A chuva se aplicou como creme para o corpo todo e foi ficando por aqui. Umedecendo. Engoli uma certa maresia a poucos dias e deu uma melhorada aqui na pele. Tem um arranha céu que eu conheço e subi até a cobertura e vi tudo. Dá pra ver tudo. É uma visão que só se tem do alto. Não da pra dizer que é uma bela visão por que a gente entalhou na pedra como seria a beleza e aí não sai mais da pedra. Pouco importa. Importa é ter um prédio que possa subir. Não se trata de alta ajuda. Quando se está lá na cobertura do prédio e o tempo acaba, é preciso descer e aí começa a vida, engolida ou prestes a ser engolida. Então a magia não está lá, mas quando desce. Não se pode tocar em nada quando está lá. Não se tem nada estando lá. Nada é nosso. Nem estando lá e nem aqui. Outro dia passou por aqui uma tempestade de areia. Ardiam os olhos. Deixou tudo empoeirado. Areiado. Não tinha outra alternativa a não ser esperar essa tempestade de areia passar. Fiz de tudo pra não engolir. Mas ela entranha nos cabelos, por dentro da roupa. Pelos ouvidos e pelas narinas. Enche os bolsos e as bolsas de areia. As roupas do varal passaram a ter o mesmo visual. A mesma cor e a mesma textura. Não via a hora dessa areia toda dar uma trégua e como nada é nosso, nem éramos da areia e nem a areia nos tinha. Foi recolhida pelo vento. Aí ela passou a ser do vento e foi embora com ela. Eu quero poder olhar pra o céu. Sempre quis poder olhar pra o céu. É uma decisão fácil, simples, eficiente e moderna, pois você pode olhar pra o céu a hora que quiser, sem hora marcada e sem regras. Praticamente ninguém conhece essa falta de regra. Esse dia houve um encontro. Encontro só se dá assim encontrando e não buscando. Encontro é levantar a vista e ter outra vista que te avista. Foi quase exatamente assim. Isso foi esse dia mas somente à partir de agora estou anotando. A gente custa a acreditar no sabor das coisas. A gente não engole e quando engole é rápido demais e deixa de sentir o gosto. Nem tudo vai ser amargo e o encontro, por exemplo, pode te levar ao cinema. Há um tempo que não ia ao cinema. O fato é que não faz parte da administração do cinema destrui-lo algum dia e vamos contando com a eternidade do cinema. Nem ele mesmo vai ficar pra sempre. Eu preciso voltar lá antes que ele não exista mais. Não estou falando de correr contra o tempo. Não estou falando em ter pressa. Falo daquela dinâmica que a gente perde com o passar dos anos. A gente queria e fazia. A gente sentia e vivia. Estávamos vivos por que não tinham começado a nos deter. Não deve ser tarde pra ir no cinema, pra experimentar um novo jantar, pra conhecer tudo outra vez. Não está tarde pra começar tudo outra vez. Cedo é acreditar que não há mais nada a fazer senão achar que é tarde demais. E final de tarde é quando no céu se encontra mais opções de acreditar que não é tarde.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Vivo

Era um sentimento vivo. E vivia até bem. Acordava como tinha que acordar. Dormir, nem sempre. Dormir é uma escalada daquelas de inexperiente ao topo do sono. É que o coração tem seus próprios pensamentos e inclusive sentimentos. Não iria enlouquecer por estar me sentindo vivo. Estava sempre escrito. Não iria me sufocar por estar vivo. Tinha muito vento. As horas passavam lentas mas estava tudo parecendo que iria se resolver. Foi mesmo assim, um daqueles sentimentos que davam a ilusão de estar vivo era a esperança. E por mais absurdo que possa parecer, tal esperança não era uma caixa de papelão com expectativas dentro. Olha só, era uma caixa de papelão com uma alegria de se achar vivo, apenas. Não era de vidro. Não era de cristal. Era de papelão a tal caixa. Percebendo tudo que me ocorria eu me pus a escrever. Essa escrita não tinha valor de cobrança e nem queria ser moeda. Ah, mas até posso jurar se for preciso pra demonstrar estar sendo real que escrevia porque me sentia vivo. Como agora, embora as cores tenham sofrido tanto às ações dos banhos de água fria que estão meio desbotadas, tenho ainda o que dizer sobre as coisas. As coisas são assim mesmo. Elas são mesmo uma coisa meio assim e tudo tende a passar. Assim como entrar matagal à dentro com um único canivete na mão, entender que todas essas pessoas não aprenderam ainda a tratar o amor como amor, se torna um desafio beirando a aventura. Para elas é sempre noite escura e sem um poste, sem laterna, sem estrelas, causa medo. Defende-se de si mesmo em uma perseguição que não chegará a lugar nenhum. Chegará num abismo que pode estar camuflado de casa com cerca pintada de branco gelo, jardim e até um quintal com goiabeira e pitangueira. Ainda estou vivo, vejo. Respiro. Caminho. Leio placas por onde passo que me revelam cada vez mais coisas que preciso fotografar e não esquecer. Não registrarei queixas. Dentro da caixa de papelão não vou deixar más impressões. Se o passeio ainda não foi possível pra ver belas paisagens, conhecer novos lugares, respirar um outro ar deve ser porque cheguei antes do horário do transporte passar. Espero aqui ou volto dia.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Para falar da minha última canção

As relações amorosas, em qualquer nível, são susceptíveis a emoções e situações diversas, basta apenas estar vivendo alguma.
Lidam com o delicado, com o sensível, com o escondido, o intocável e aí já está estabelecido o conflito; obviamente está cercada por muitos momentos de diversão, intensidade, prazer, magia, planos e a devolução de muita coisa importante que havia se perdido na vida de cada um.
Porém, quando chegam ao fim, são avalanches e algumas vezes sem o menor estrondo inicial que daria tempo de sair correndo e se salvar. Não tem como escapar e essa dor é esmagadora e deixa marcas, medo, mau-humor, inutilidade e uma intimidade maior com a própria cama.
Isso aqui não é pra relatar exatamente uma experiência pessoal e dizer o quanto foi difícil, mas sim, pra falar da última canção que compus "Eu acho que o que dói".
É uma letra curta que não quer tocar na questão do amor que magoa mas o quanto, por outro lado, também pode ser sofrido não viver o que viemos fazer no mundo: aprender a amar, encarando erros, enxergando marcas, seguindo em frente e se permitindo viver tudo de novo com um pouco mais de conhecimento.
Todo processo de revolta e rejeição a um novo relacionamento tem seu valor mas dar-se uma nova chance é abrir uma janela de frente pra o mar. É voltar a sorrir, acreditar na sorte e ficar esperando o próximo telefonema de quem ainda está conhecendo. Não estamos imunes. O amor vai sempre dar um jeito de chegar.
Com isso, acredito que sempre valerá a pena sentir a euforia de conhecer um universo novo sem certeza do futuro mas com a possibilidade imensa de emprestar o par de chinelos no dia seguinte.
O tempo não espera você se aprontar.
Agora você pode ouvir a canção sobre tudo isso que quis dizer:

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Fazer estar bem

Me ocorreu hoje que posso estar tentando te fazer bem. Me ocorreu que se eu te deixo feliz, à maneira que suponho, encho o peito de um ar risonho. A intenção de tudo que faço é chegar ao bem estar, mas numa lista priorizo sua satisfação. É o topo da lista. É como me sinto bem. Um cobertor com cheiro de amaciante, aroma jasmin, numa noite de frio. À partir disso quero que saiba que não desejo ficar apenas comigo sob esse jarmin que mais parece um cobertor numa noite de frio. Posso empresta-lo. Eu não perco tempo escolhendo palavras eu encontro meu tempo de me fazer bem pois suponho que te fará feliz. Até agora estava deixando dentro de uma vasilha protegida com papel filme a palavra feliz. Para não haver a sensação que estou em um certo palanque tentando eleger a mim mesmo o melhor candidato pra um cargo de alta responsabilidade e tão cobiçado como ser feliz. E ser feliz é pra autodidatas. Ninguém se mete na felicidade alheia. Nesse caso que descrevo, autorizo suas sugestões que possam me beneficiar na escolha por ser feliz. Como algo são. Tá autorizado sua intervenção. Já existe uma conexão nossa para uma certa alegria. Falei alegria quando eu não queria. Alegria é cabo eleitoral de Seja feliz. Vêm puxando nas costas uma carroça, por falta de burros, carregada de promessas que ninguém mais quer comprar. Por isso estava evitando esse par embora seja a única e melhor aposta pra mim, pra você, pra nós dois. Nós dois também. Evitando citar. Embora mastigando todo dia, nós dois também precisa estar nessa linha. Precisamos entrar na linha. Na linha que nos põe frente à frente. Foi dado um cartão de transporte pra um bairro distante e com engarrafamento pra a insegurança. Hoje é dia de querer a jóia quase mais cara. Hoje é dia do cruzeiro à uma ilha que é cercada por festas por todos os lados. Hoje eu vim deixar que me escape dos dedos toda saúde contida em meu prazer de sugerir algum prazer à você. Permaneço no propósito. Minha permanência quer continuar criando cenários e trilhas pra desfazer a ilusão que o bem-estar já está reservado e teremos que esperar que desocupe uma vaga. Viro logo a mesa. Chamo o gerente. Falo baixinho mas com as palavras certas: deixe-nos poder provar o sabor. O amor está no cardápio, não está? Saimos de lá satisfeitos me dirijo até minha casa. O teto que cobre a paz de saber que faço planos sorrindo pra sorrindo te ver. Continuarei na linha reta na intenção de te encontrar. E indo em frente, todo bem-estar na mochila e uma praia boa pra seu descanso e a confiança que continuarei em formas novas de compor o seu tão esperado gostar. Assine a autorização e coloque em baixo da porta.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sem pedaços

Andava descrente de tudo. Andava principalmente descrente de mim. A chuva não, a chuva era real no meu rosto. A cratera gigantesca aqui dentro era real. Esse lado realista apenas servia como cabide para todas as partes que doíam em mim. É que quando acordei de repente eu estava numa ilha. Numa ilha longe. E não tinham deixado cair por lá, por entre a selva, nenhum mapa, nenhuma pista. Aí eu já comecei a não acreditar mesmo em nada. Ilha é uma coisa tão deserta que qualquer deserto que se orgulha de seu imenso vazio se torna arrogante. Vazio não é pra qualquer um e eu estava descrente. Era ruim andar em círculos. Procurar uma saída nem sempre significa que se poderá achar. Eu tinha deixado de procurar. Tinham me deixado pra mim. Tive uma obrigação injusta de me achar. Para quedas assim somente o chão. Ninguém cai na água, numa piscina de bolas de isopor ou num colchão de ar. Quedas foram feitas pra arrebentar o que parecia forte ou quase inquebrável. Deu certo. Quebrou-se com total eficiência numa queda feita pra quebrar. Mas quem consegue colar pedaços de si mesmo? Sem mãos, sem dentes, sem pernas, sem cotovelos, sem restar nada que sirva de apoio? Aos poucos o pouco que ficou, entre não dormir e cair de sono, entre pesadelos e branco total, foi  se reorganizando por exclusiva sobrevivência. Vendo-me os pedaços pude me conhecer parte a parte desse corpo que não via a um tempo. A quanto tempo! Nem me lembrava mais. E tive que acreditar. Sair da descrença. Eu sabia levantar o braço e apontar pra lá, onde eu queria estar. Havia coisa boa pra mim. Daqui mesmo eu me via lá, antes de chegar. Mesmo sem saber chegar. Eu tanto quis que apontei, mirei a vista e fui. Não houve outra, cheguei lá. Meio sem saber pisar no chão. Meio sem saber pra onde olhar, mas entendendo que cada lugar tem sua particularidade. O melhor da particularidade que encontrei foi te conhecer. Houve uma certeza quase inquebrável que tava apontando na sua direção e não a esmo. Porque ao se recuperar de uma queda em que se parte em pedaços a gente passa a compreender cada articulação que dói. Cada parte que dói fala alto e nos previne dos perigos de novas contusões. Da ponta do dedo indicador ao calcanhar. [Ressaltando que eu não tinha conhecimento que aquilo era um precipício.] Acontece que apontei pra lá. Acima do precipício. Subia descrente. Completamente. O melhor momento pra mim foi quando lentamente começou a escoar bem pra lá, o líquido sujo da dor que me encharcava toda a roupa e eu pude secar os cabelos com sua brisa. Ninguém melhor que eu pra entender o momento em que apontei, fui e te encontrei. É como eu te disse, aquela tarde valeu tanto quanto vale se ver gostando de alguém. [Aquele beijo eu ainda nem pude escrever.] Vale o tempo de espera. Vale o branco na vista. Vale tanto quanto o que vem de bom pela frente. Vale acreditar que embora estivesse descrente é inevitável não te olhar.

Amanhã e depois

Em algum dia de amanhã estarei te ligando pra te ver. Será o dia de um passeio por aquele lugar que aprendemos a gostar. Bem nossa cara. Vai ser lá, outra vez, que vamos combinar olhares e lembrar que a última vez que estivemos ali não ventava tanto. O tempo muda de uma forma só dele. Só a gente sabe o que faremos depois. Só a gente sabe como nos dar as mãos. Um dia assim esqueceremos os relógios. Não teremos tempo a perder, pois quase perdemos o tempo de colocarmos os medos e as dúvidas de lado pra seguir o nosso caminho juntos. É um tempo que a gente nem quer lembrar pois nos deixa pouco contentes. No dia seguinte, após amanhã, você me liga pra saber como tudo vai e me diz como tudo foi. Pelo som de sua voz sei que precisa do meu tom de voz pra te causar uma pequena calma. Aquela calma que vem acrescentada de saudade com uma calda de desejo condensado. Sua ansiedade em me ouvir vem num balão e vem descendo lentamente até chegar no chão quando uma risada nos faz relaxar. Eu fico bem por te fazer bem e somos como um carrossel. Um carrossel pode levar a uma ideia infantil e não é nada mau, pois toda criança leva em si um poder de transformação e determinação tal qual o amor. E já que estou falando de amanhã, sei que depois de amanhã estaremos falando de amor. Minha palavra preferida. Não sei se por aí as pessoas têm uma palavra preferida, mas amor é uma palavra que faz o corpo balançar. Não como dança. Não como estar num asfalto esburacado. Balança como quem perde a força de ficar em pé. Balança como palha de coqueiro. Eu não precisarei mais me comunicar com ninguém, só em me ver balançar, tudo estará dito. Depois, amanhã, será meu tempo preferido. Estaremos famintos. Estaremos de ressaca. Estaremos de porre. Estaremos com sono. Estaremos com preguiça. Estaremos planejando uma nova receita. Estaremos sem nenhuma ideia de como nos divertir novamente. Amanhã vou estar na boa. Quando você me ligar será quando tudo for calmo entre nós. Hoje, solto palavras na esperança de ser real que no depois estaremos rindo do quanto foi feliz te ver pela primeira vez. 

terça-feira, 1 de julho de 2014

Tenho pra mim

Custo à acreditar que preciso me arrepender se o que menos sei é o que preciso. Sei que não preciso de desculpas. Sei que não preciso ser confundido com um panfleto de ótica oferecendo a visão em parcelas sem juros. Tenho noção de valores e sei que preço pagar. Então devo descartar o arrependimento de ser mais próximo do repente e tão distante da ópera. Um tão espontâneo e improvisado e o outro tão ensaiado e polido. Não entrego tudo de bandeja, o melhor eu vou borrifando aos poucos. É um engano achar que me revelo nos primeiros minutos do filme. Todo filme guarda surpresas. Outro dia pensei absurdos sobre como chamar sua atenção. Nada com fogos de artifício, nem cartazes na porta da sua casa ou uma descida estratégica de helicóptero em seu quintal. Absurdo em te mandar flores. Absurdo em converter um simples desejo em uma dúzia de flores. Então eu desisti da idéia da dúzia de flores e pensei em uma única flor. Como chegaria em sua casa? Quem a transportaria até você? Como não poderia ser eu mesmo, quem faria? Comigo, eu sei que não preciso me culpar do desejo de enviar uma única flor. Se não o fiz foi por falta de uma boa logística na hora da entrega. Essa entrega que não fiz, faço dentro da minha cabeça e dentro da minha cabeça a flor chegou à você. Foi tão simples que inclusive, num jeito que só a imaginação concede, eu lhe vi sorrir depois que o entregador foi embora, ao ver uma única flor. Havia um cartão com poucas palavras, pois uma única flor já diz o que ainda nem se sabe dizer e não havia assinatura. Até vi que guardaria com cuidado e ficaria decifrando o anonimato de como essa única flor lhe foi ofertada. Então esse momento seria tão empolgante pra mim quanto para você. A vida só tem que ser empolgante. A vida só tem que fazer efeito depois de engolida. Nenhuma história foi escrita sem o primeiro parágrafo. Eu não me faço difícil e nem sou fácil pois é complexo ser explícito. Tenho pra mim que não lhe esqueço pois quando te vejo percebo que estava o tempo inteiro naquele instante que acabou de acontecer. Tenho pra mim que será assim até quando a gente não quiser. Tenho pra mim que tenho você.